segunda-feira, 6 de abril de 2009

Fragmentos: Episódio de Anaïs Nin e Hugo no bordel da Rua Blondel, 32 (Março, 1932).


"O táxi nos deixa numa ruazinha estreita...vejo o '32' em vermelho numa das portas...não é uma casa, mas um café cheio de pessoas e mulheres nuas...
Barulho. Luzes que cegam. Muitas mulheres cercando-nos, tentando atrair nossa atenção.
Temos que escolher. Hugo sorri, confuso...
Escolho uma mulher muito corpulenta...parecendo espanhola, e depois...chamo uma mulher...pequena, feminina, quase tímida.
Peço a Hugo para olhar cuidadosamente para ver se escolhi bem. Ele assim faz e diz que eu não poderia ter escolhido melhor...
Vamos para o andar de cima. Gosto de olhar para o andar das mulheres despidas.
O quarto está suavemente iluminado e a cama é baixa e ampla. As mulheres estão animadas, e se lavam...
Observamos a mulher corpulenta atar um pênis a si, uma coisa rosada, uma caricatura. E elas fazem poses, desavergonhadamente, profissionalmente...
Hugo e eu observamos, rindo um pouco das investidas delas...É tudo irreal, até eu pedir pelas poses lésbicas.
A mulher pequena adora isso, gosta mais do que quando a outra faz papel de homem. A mulher graúda me revela um lugar secreto no corpo da mulher, uma fonte de um novo prazer, que eu algumas vezes sentira mas nunca definidamente - aquele pequeno âmago na abertura dos lábios da mulher, bem o que o homem deixa passar. Ali, a mulher corpulenta trabalha lambendo com a língua. A mulher pequena fecha os olhos, geme e treme de êxtase.
Hugo e eu nos debruçamos sobre elas, tomados por aquele momento de beleza da mulher menor, que oferece aos nossos olhos seu corpo dominado, trêmulo. Hugo fica transtornado...
Percebo os sentimentos de Hugo e digo:
-Você quer a mulher? Tome-a. Eu lhe juro que não vou me importar, querido.
-Eu poderia gozar com qualquer pessoa agora - responde ele.
...a pequena mulher está ofegando, suas mãos acariciando a cabeça da outra mulher. Aquele momento por si só agitou meu sangue com outro desejo. Se tivéssemos sido um pouco mais loucos...Mas o quarto nos pareceu sujo. Saímos. Estonteados. Felizes. Fascinados.
Eu conseguira dar a Hugo uma parte do prazer que me enchia.
E quando voltamos para casa, adorou meu corpo porque ele estava mais adorável do que o que havia visto, e mergulhamos na sensualidade juntos com nova conscientização.
Estamos matando fantasmas."

( "Henry & June: Diários não-expurgados de Anaïs Nin" )

4 comentários:

  1. Essa mulher era linda, inteligente,ousada e corajosa.
    Admirável mesmo.

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  2. esta cena no filme é belíssima. Se me perguntassem qual personagem faria no cinema neste exato instante, eu reponderia sem exitar: Anais.

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  3. Querida Si, vc é Anais Nin...Pra mim vc é e só vc poderia ser. Tinha vontade de montar um espetáculo sobre os textos dela e só vc e apenas vc seria capaz de interpretá-la!
    bjs

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"Isso,vai...
Diz pra mim"