terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Inspiração Rodrigueana???

Segue um texto de uma amiga.
Adoro!
Muito,muito estimulante!
Tanto o texto quanto a amiga.
Beijos pra ti,"Belle du jour".

"Te perdôo

Antes de começar, preciso dizer que o que vou contar realmente aconteceu. Não é uma história inventada, posso garantir, a fonte é segura. Você pode até desconfiar, porque o que vou narrar não aconteceu comigo, nem com nenhum dos meus. Mas soube por uma amiga muito séria, daquelas em quem a gente acredita de olhos fechados. No entanto, a protagonista não é ela, mas sim uma amiga dela, que eu conheço de bom-dia no corredor. A minha amiga é confidente dessa moça. Todas trabalhamos na mesma empresa, mas eu sou do sétimo andar e elas do oitavo. Repito que o caso é verídico: trata-se de verdade verdadeira.

Para facilitar as coisas e preservar identidades, vou usar nomes fictícios. Afinal, meu objetivo não é fazer fofoca nem denúncia. Também não estou aqui para julgar ninguém, apenas para contar uma boa história.

Vamos aos fatos. Janaína trabalha na mesma seção que Márcia, a minha amiga, e há tempos vinha se queixando das crises de ciúme do marido, Roberto. A Márcia me disse que não conhece pessoalmente o Roberto, mas já viu fotos. Disse que o cara é um gato, que não entende um homem bonito ser tão inseguro. O Roberto tem tanto, mas tanto ciúme da Janaína, que costuma averiguar todos os passos da mulher: o horário marcado nos recibos do cartão de débito, o extrato do cartão de crédito, as ligações do celular, qualquer vestígio que possa haver no carro... até mesmo o cheiro da roupa íntima ele verifica! No entanto, a Janaína é uma santa. Nunca deu motivos para o marido agir assim. Só que é uma mulher muito bonita, daquelas que os homens olham mesmo. E lá no oitavo tem muito homem. Ela e a Márcia são as únicas mulheres da seção. Como a Márcia é meio apagada, a Janaína se destaca ainda mais. Mas é discreta, não anda com visual exuberante, não. Os homens é que não podem ver um rabo-de-saia que ficam loucos. Mas, como eu ia dizendo, a Janaína nunca deu motivo para tanta ciumeira. Leva uma vidinha da casa para o trabalho, do trabalho para casa. A Márcia está com ela todo dia, vê que a menina não tem olhos para ninguém. Ela está é sofrendo com tanta desconfiança. Teve um dia, a Márcia disse, que ela chegou a chorar na hora do cafezinho. Tudo por conta do controle excessivo do marido. O sujeito liga umas vinte vezes por dia e, se ela não atende em uma dessas ocasiões, ele começa a busca por alguma pista de adultério. A gente pensa que isso é coisa de mulher, mas tem muito homem que faz isso!

Há um mês mais ou menos o José Carlos, que trabalha lá no oitavo com as meninas, começou a dar em cima da Janaína mais abertamente. Até então ele fazia apenas uma ou outra gracinha para ela, mas a Márcia me contou que, com o tempo, o assédio começou a ficar pesado. Mesmo assim a Janaína estava ali, firme, sem dar a menor condição para o Zé. E olha que deve ser difícil, porque o Zé é alto, bonito, inteligente, e tem uma voz... ah, nem vou contar... que voz! Voz de homem, voz forte, marcante. Digo isso porque um dia subimos no mesmo elevador e ouvi o papo dele com a D. Angélica, a copeira do nono.

Mas sabe como é a vida: a Janaína chateada com a situação em casa, e um homem marcando em cima no trabalho. Um belo dia ela cedeu aos próprios impulsos. A Márcia me disse que até deu força, porque não dá para dispensar um homem como o Zé Carlos. Mas foi tudo muito planejado, pensado com muito cuidado, para que o marido não descobrisse de maneira alguma.

Em uma segunda-feira, quando o Roberto ligou para a Janaína por volta das duas, ela avisou que ia ter uma reunião de planejamento estratégico naquela tarde. A Márcia me contou que já estava sabendo da armação. Disse que era reunião com a diretoria, que era importante e demorada, e talvez ela não pudesse atender o celular. Feito isso, deu um toque na Márcia, pegou a bolsa e disse que ia ao médico. Passou pela mesa do Zé e o chamou. A Márcia disse que prestou bastante atenção na cara do Zé: o sujeito ficou surpreso com a convocação, mas levantou rapidamente e seguiu a Janaína sem pestanejar, como um cachorro que abana o rabinho quando é levado para passear.

Segundo a Márcia, a idéia da Janaína era levar o homem para um motelzinho furreco a algumas quadras da empresa. Foram até o estacionamento onde ela deixa o carro. Ela sentou ao volante e ele no carona. Não percorreram nem metade do caminho e Janaína entrou em um beco onde catadores separam lixo para reciclagem. Encostou o carro depois de um burro-sem-rabo e partiu para cima do Zé ali mesmo. Os vidros embaçaram em segundos e o trabalho foi concluído em poucos minutos. Protegida pelo pára-brisa ainda embaçado, Janaína se recompôs, pegou o preservativo que jazia sobre o câmbio e jogou pela janela.

Retornaram para a empresa. O Zé estava tão eufórico e desnorteado que nem voltou a trabalhar naquele dia: ficou no boteco, bebendo cerveja no balcão. Mas a Janaína estava tranqüila e subiu. Antes de entrar na sala, foi ao banheiro, escovou os dentes, trocou a calcinha por uma idêntica que levava na bolsa e descartou a usada na lixeira. Quando atravessou a seção, ninguém desconfiou. Só a Márcia, que já sabia da história, pôde perceber o sorriso da amiga. Janaína conferiu o celular: nenhuma chamada perdida. O marido havia ligado para o ramal, mas a Márcia atendeu e confirmou que ela estava em uma reunião. No fim da tarde, antes de ir embora, Janaína ligou para o marido. Falou dos objetivos do planejamento estratégico e disse que estava indo para casa.

Ao abrir a porta, Roberto já estava a postos no sofá – tudo isso ela contou para a Márcia no dia seguinte. Deu um beijo no marido emburrado e foi para o banho. Enquanto isso, o homem começou a investigação: revirou a bolsa, foi ao banheiro cheirar a roupa da mulher e, não satisfeito, desceu até a garagem para fazer a inspeção do carro.

Janaína penteava os cabelos diante do espelho quando Roberto retornou com a seguinte pergunta: mulher, que tanto papel você largou junto do banco do carro? Janaína não soube o que responder. Ele a puxou pelo braço e disse: vamos, quero que você me explique o porquê daquela imundície.

Ela abriu a porta do carro e passou a mão pelo estofamento, recolhendo a embalagem do preservativo entre pacotes vazios de biscoitos. Mascarando a tensão, amarrotou os pedaços de plástico metalizado e voltou-se para o marido: não é nada, está vendo? São apenas embalagens de salgadinho! Agora dei pra comer no carro.

Naquela noite, tudo mudou: Roberto, chorando, reconheceu que a mulher era incapaz de traí-lo e pediu perdão por tanta desconfiança. Depois de muito conversarem, fizeram sexo até amanhecer."

Letícia Balceiro

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